O universo pode ter surgido não com um quente e intenso Big Bang
mas sim com um longo e frio nascimento, como sugere um estudo publicado recentemente.
Nos
últimos 50 anos, a maioria dos cosmologistas acabaram concordando que toda a
matéria inicialmente explodiu a partir de um ponto único. Em um instante, o
quente e denso universo explodiu dramaticamente em um evento chamado inflação,
que teve como consequência uma expansão por bilhões de anos.
No
entanto, o modelo do Big Bang requer um universo que comece de uma
singularidade, um ponto de densidade infinita onde as leis da física foram
quebradas. Já uma teoria que evitasse essa singularidade sem introduzir outras
complicações poderia se encaixar melhor na mecânica quântica.
Christof
Wetterich, um físico teórico da Heidelberg University na Alemanha, acredita ter
chegado nesse modelo que poderia evitar a singularidade. Em sua teoria,
partículas elementares se tornam mais pesadas com o tempo, enquanto a gravidade
enfraquece. Essa lógica leva a um histórico cósmico onde o universo ainda está
inflando, mas não necessariamente expandindo. Ao invés de começar com o Big
Bang, o tempo antes da inflação poderia se estender ao infinito.
Não é
possível medir se as massas das partículas continuam constantes porque é
possível apenas calcular a diferença entre diferentes massas, não as massas em
si. Por exemplo, todas as massas da Terra são calculadas a partir da referência
de um peso de kilograma padrão que fica na França. Isso significa que se esse
peso diminuir ou aumentar de massa, todo o referencial de massas do planeta
mudará também. Assim, para Christof, o universo pode não estar expandindo, mas
na verdade a “régua” com que o medimos está encolhendo.
Se as
massas das partículas tem crescido, a radiação de um universo no passado pode
fazer parecê-lo mais quente do que ele realmente era, e objetos distantes
pareceriam se distanciar mesmo que não estivessem. Isso explicaria porque o
universo parece estar expandindo. Assim, Wetterich diz que a teoria da origem
cósmica não precisa juntar toda a matéria em um ponto antes da inflação,
evitando a singularidade. O universo poderia ter começado disperso e frio, emergindo
após um período de tempo inimaginável.
O fim do “momento da criação”?
O
problema com a teoria do Big Bang é que ela não permite aos físicos se livrarem
de um “momento da criação”, deixando em aberto diversas questões como o que
existia antes da singularidade, o que ocasionou a explosão e porque nela as
leis da física não se aplicavam.
Já o modelo de Wetterich consegue acomodar os dados
observacionais obtidos nas últimas décadas e abre margem para um universo que
“sempre existiu”, estendendo-se ao infinito. “Não existe mais uma
singularidade neste novo quadro do cosmos“, afirma ele.
Infelizmente, para Wetterich, sua teoria não tem muitas chances
de ser aceita rapidamente pela comunidade científica. Segundo Niayesh Afshordi,
um astrofísico da Perimeter Institute of Theoretical Physics em Waterloo,
Canadá, é difícil que os cosmologistas aceitam a mudanças das massas de
partículas para se livrar da singularidade. “Os cientistas são conservadores
por natureza”, diz ele. “Nós não aceitamos modelos
seriamente até que basicamente não haja outra opção”.